O Paciente - O Caso Tancredo Neves

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   E aí galerinha do futuro! Tudo tchiuris? Tuuuuudo tchiuris! RetroBoy na área. 
Nesse momento estou falando do futuro e percebi na filmoteca esse filme 'papo firme' chamado "O Paciente - O Caso Tancredo Neves" (que, obviamente, se passa NOS ANOS 80!)

   É uma espécie de "filme documentário". Começa com narração e vai pra "história" (coloquei entre aspas o "história" porque nem tudo que está no filme é fieeeeel fieeeeel, mas se aproxima. Como disse o Garoto-Maroto: não confie em tudo que você vê).

   O que conta esse filme: vamos pôr assim "são os dias finais do primeiro presidente civil, Tancredo Neves". Foi baseado em um livro com o mesmo nome (que eu não li, mas quero ler), publicado em 2010, pelo historiador e pesquisador médico Luis Mir.

   Pra quem não sabe, Tancredo foi eleito de forma indireta, ou seja, não foi escolhido diretamente pelo povo, e sim, pelos políticos como os membros do Congresso Nacional e representantes das Assembleias Legislativas dos Estados. Mas, naquela altura do campeonato, onde eram quase 20 anos de militares no poder, ter um civil na presidência era um avanço incontestável!
Então imagina: anos de repressão e perseguição militar (sim, foi assim viu? mas não vou me esticar nesse assunto), e aí, de repente, vem um civil, com novas idéias e um novo jeito de tratar as pessoas e "pah!" vira presidente! Tancredo era incrivelmente carismático! Sempre sorrindo. Tratava todo mundo com respeito. Era um cara legal! PORÉM, o peso do mundo estava nas costas daquele senhor de setenta e poucos anos.
Ele já estava sentindo alguns desconfortos durante a metade de 84, mas ele ficou segurando a informação porque achou que poderia atrapalhar o processo democrático do país. Os médicos também não deram muita importância e deram alguns medicamentos pra passar... Em 85, enquanto estava na igreja, ele começou a sentir dores muuuuito fortes. Tanto que na saída, alguns repórteres estavam na porta e ele não estava tão sorridente quanto de costume... Ele já saiu da igreja com a mão apalpando a barriga. 

   Reza a lendaaaaaa, boato que o povo contaaaaaaa, que ele foi baleado dentro da igreja. Tem genteeee que disse que até tiro ouviu! ACHO que é boato, porque não tem nada que comprove isso. Não sou médico, MAS se ele tomou um tiro na igreja, deveria ter tumulto, sangue e tudo mais, porém não teve...

   O que acontece, é que, nessa de esconder as dores pra não adiar a sua posse (o que ele temia, porque aí os militares poderiam querer ficar maaaais tempo aterrorizando o país), ele só foi pro hospital aos 45 do segundo tempo, ou seja, com muuuuita dor! E é aí que o filme começa! Com ele sentindo dores até ser convencido de que tinha que ir pro hospital!

   Boys and Girls, é muuuuito estranho ver um filme cujo final você sabe que o protagonista morre. Por mais que eles operem e tals você espera o cara se recuperar ou espera ele morrer! Você fica brincando com esse sentimento o filme todo. Eu gostei do jeito 'oitentista' que o filme é filmado. Inclusive ele mistura imagens reais, de reportagens, com o filme, o que dá uma sensação histórica ainda maior.


   Vou falar um pouco do filme em sí: Othon Bastos (ator de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", do menino Glauber Rocha) é um ator maravilhoso e mandou bem como Tancredo. Não foi uma caricatura, mas foi a interpretação dele do sofrimento do futuro/presidente. Paulo Beth também está muito bem e não o reconheci nas suas primeiras aparições. 
   Gosto de muitas coisas nesse filme, MAS uma coisa me incomoda muuuuuuuito: sotaques! É um erro recorrente em váááááárias produções nacionais! Gente, não é difícil... ó: se a personagem é mineira, ela não fala com 'xix' de carioca. Se ela é paulista, ela não fala comendo as palavras como o mineiro... Não tem como errar! Falta de capricho, sei lá o que é, mas acho uma falta de respeito.
Não me incomoda esse filme não se arriscar em alguns momentos, nem do formato que ele se encaixa, já que é um filme documentário. Eu até gosto quando me surpreendem assim. É um filme 'quadrado', o que não significa ruim. É um filme que deveria ser visto pra termos conhecimento histórico, MAS lembrando que filme ainda sim mistura ficção.

   Ahhhh, já que você chegou até aqui, eu vou te falar o que era ficção e o que era verdade, tá bom? Vamos lá!



   - VERDADE PURA: Logo na cena inicial, Tancredo com um caso inusitado para a família: certo dia, na cidade de Andrelândia, ele resolvera se barbear num salão local. Enquanto aguardava, cheio de espuma no rosto, o barbeiro lhe pergunta se ele se lembrava de um assassinato ocorrido anos antes e julgado por ele, então promotor de Justiça. Por quê? Ora, porque ele tinha sido o assassino! Curiosamente, depois de dizer isso e de assustar seu cliente até a espinha, o barbeiro elogia o discurso “muito bonito” feito pelo promotor no seu julgamento e continua seu trabalho, tranquilamente.

A cena pode parecer inventada, mas foi retirada da biografia de Tancredo O Príncipe Civil, publicada por Plínio Fraga em 2017. O diretor Sérgio Rezende conta que a cidade de Andrelândia é a mesma em que seu pai nasceu e muitos colegas pensaram ser uma homenagem. “Mas era apenas uma coincidência”, diverte-se. “A história está toda no livro, exatamente como contamos.”


O que mais chama atenção no filme é a quantidade de erros de diagnóstico, procedimentos e comunicação cometidos pela equipe médica desde o início. Menino/menina, é um empurra-empurra o filme todo. Todo mundo colocando a culpa em todo mundo. Gente falando uma coisa pra imprensa e outro desmentindo, foi sinistro... Mas voltando pro filme, por mais absurdos que pareçam, Mir, que escreveu o livro, garante que todos os equívocos mostrados ali são reais e estão documentados no prontuário – inclusive aquele em que o paciente, acordado, testemunha a confusão dos médicos sobre qual sala seria usada para a operação (parte da equipe tinha preparado uma sala na UTI e a outra parte levou o presidente ao pronto-socorro).



Diversos outros equívocos ocorreram tal como são mostrados no filme. O diagnóstico inicial feito pelo clínico, por exemplo, foi mesmo de apendicite, suspeita que só foi eliminada quando o paciente foi aberto e foi encontrado um pequeno tumor. Porém, até esse foi mal diagnosticado (dessa vez por um cirurgião), sendo confundido com um divertículo de Meckel (o famooooso 'nó nas tripas') e retirado como tal, com uma técnica arriscada. Os problemas desse procedimento acabaram provocando uma hemorragia que continuou até o último dia. Outro problema foi uma entubação apressada (a ventilação do paciente foi retirada antes da hora) feita na primeira cirurgia. Isso acabou gerando uma inundação dos pulmões, que jamais se recuperaram.


Mais tarde, Tancredo ainda seria submetido a outras intervenções fracassadas, algumas desnecessárias (como a segunda, feita para curar uma obstrução intestinal que nunca existiu) e outras, realizadas apenas para corrigir os erros das anteriores. Diante de tudo isso, Mir não esconde a indignação e lamenta: “Bastava que tivessem tratado da infecção com medicamentos e, após a posse, sem pressa, poderiam ter feito uma única cirurgia eletiva com segurança”.

Ah, uma informação que eu achei é que Tancredo JÁ HAVIA SIDO OPERADO DE APENDICITE!

Além dos erros médicos, Tancredo foi vítima de um hospital desorganizado e com estrutura precária. Como o filme mostra, havia falta de materiais essenciais, os corredores estavam lotados e um exame de cintilografia precisou ser realizado em São Paulo por falta de plantonista para abrir uma sala no hospital de Brasília.

Outro elemento que ajudou a selar o destino do presidente foi a disputa de egos entre os médicos de Brasília (liderados por Pinheiro Rocha) e Henrique Walter Pinotti, de São Paulo. Segundo o escritor, Pinotti teria sido a primeira opção da família, que estava pronta para levar o parente à capital paulista na véspera da posse, mas foi impedida pela equipe local, que alegou que Tancredo não aguentaria a viagem. Para ele, o autor do livro, a atitude dos médicos de Brasília foi vaidosa, pois eles não queriam perder a chance de tratar um paciente tão célebre, mesmo não tendo condições de fazê-lo. “Se não tivessem inventado essa urgência, Tancredo poderia ter completado o mandato e vivido muitos anos”, afirma Mir.

   - MAIS OU MENOS VERDADE: No filme, Tancredo Neves tem uma forte dor abdominal na véspera da cerimônia de posse, mas se recusa a ser operado e mostra uma enorme teimosia diante do que parece, ao público, uma situação de emergência. Isso tudo, é claro, ajuda o filme a ganhar um clima de tensão, mas, segundo Mir, a gravidade não existia e, provavelmente, a dor não era tão intensa assim.

Isso foi uma coisa que o direto do filme, Sérgio Rezende, conversou com o autor do livro convenceu ele que era preciso fazer o sofrimento parecer maior para embalar o filme. Mas não havia um quadro de abdômen agudo. O que Tancredo sentia era cansaço... Lembra que eu falei do 'mundo nas costas'? Pois é...

Numa cena, Tancredo acorda num susto e diz ter sonhado que o presidente da época, João Figueiredo, “passava a faixa para o seu cavalo”. A frase é ficcional, inspirada em piadas que circulavam na época, mas o sentimento é real – ou, pelo menos, parte dele. O futuro presidente demonstra receio de que a democracia desmorone na sua ausência e que os militares retomem o poder, o que era uma possibilidade.

Mas Tancredo não era um opositor tão ferrenho do regime quanto a cena faz parecer, mas sim algo mais próximo de um “conciliador” entre a antiga e a nova política. Tancredo foi escolhido por ser uma ‘via segura’ para que o regime da época se colocasse no jogo democrático. Ele não representava uma revolução, tampouco uma ameaça, mas era uma figura ambígua que conciliava valores antigos e novos

Vale lembrar que Sarney, que acabou assumindo a Presidência no lugar de Tancredo, era um dissidente do regime militar que mudou de lado para se opor à candidatura de Paulo Maluf, e é por isso que o então presidente temia que os militares não o reconhecessem.


   - VERDADE QUASE PURA: No filme, o presidente é operado diante de uma dúzia de senadores e deputados, que assistem ao procedimento sob aventais e máscaras. De fato, Mir estima que havia entre doze e catorze pessoas dentro da sala de cirurgia e outras quarenta no centro cirúrgico, acompanhando as notícias de perto. “Foi uma invasão”, comenta, refutando por outro lado uma segunda informação sugerida no longa: “Isso não significava, porém, um risco maior de infecção para o paciente. Era ruim para os médicos, que não tinham espaço para trabalhar, mas essa ideia de infecção externa, pela simples presença de pessoas na sala, é um mito”.


   - VERDADE PURA: Pode parecer absurdo, mas o laudo de Tancredo Neves realmente foi falsificado pelos médicos, como mostra o filme. A família estava ciente da doença (um tumor benigno, confundido inicialmente com um divertículo de Meckel - já falei o que é, né?), mas o laudo oficial omitiu essa informação. Para piorar, o assessor de imprensa Antônio Britto não teve acesso ao presidente por mais de dez dias após sua internação, trabalhando apenas com comunicados falsos ou vagos emitidos pelos médicos. A bagunça levou o povo a inventar suas próprias teorias, como a de que o presidente havia levado um tiro ou que já estava morto muito antes do dia 21, data que teria sido escolhida para coincidir com a morte de Tiradentes e dar ao político um aspecto messiânico.
Isso dele já estar morto, eu escuto sempreeeee!


Para acalmar o povo e “provar” que o presidente estava bem, Britto decidiu produzir uma foto no hospital, que acabou se transformando numa grande polêmica. Acontece que a fotografia foi realizada horas antes de Tancredo sofrer uma hemorragia grave e, quando isso veio à tona, explodiram boatos de que ele já estaria morto na foto, ou que os enfermeiros estariam escondendo tubos atrás do sofá. O que de fato aconteceu, segundo o pesquisador, foi exatamente o que mostra o filme: o presidente carregava apenas um recipiente de soro e nada além disso. A foto é real (e ele estava vivo). Abaixo, uma das imagens feita naquele dia, esta sem a presença de Risoleta ao lado do marido.



   - NEM VERDADE, NEM MENTIRA, FICÇÃO: Se toda a trama médica é fortemente baseada em documentos, arquivos e biografias, o retrato íntimo da família Neves está entre os elementos mais ficcionais do longa. “Os diálogos pessoais precisaram ser criados para o filme”, admite Rezende, referindo-se a cenas como aquela em que dona Risoleta (Esther Goes) segura o choro para mostrar força diante do marido e das filhas.

Além dos diálogos, as personalidades dos familiares não são totalmente baseadas na realidade. “Não consultamos a família, mas observamos entrevistas e outros vídeos para estudar os personagens”, conta Rezende, que explica que não houve a intenção de recriar fielmente traços físicos ou de comportamento, e que mesmo o protagonista Othon Bastos não quis “criar um clone” de Tancredo.



AH! Sim... A música "Coração de Estudante", composta por Wagner Tiso originalmente para homenagear Teotônio Vilella, e que ficou famosa na voz de Milton Nascimento, está no filme, já que tinha virado uma espécie de hino patriótico em louvor a Tancredo. Porém, o final não emociona. Tem alguma coisa errada nos finais de filmes sobre pessoas né? São poucos os que são realmente impactantes... Nesse filme fica 'morninho-morninho'...

Mas ó, no geral, eu gostei muito desse filme. Fiquei angustiado o tempo todo e acho que é isso aí que o filme quer. (Se for, conseguiu kkkk)


Eu vou colocar a ficha técnica aí pra vocês e escreve aí se curtiram, se querem que eu faça videos assim falando do que era verdade ou não, se querem videos biográficos, enfiiiiim, quero interação!

No mais, vejo vocês no passado! FUI!


Elenco:
Othon Bastos .............. Tancredo Neves
Esther Góes ................. Risoleta Neves
Leonardo medeiros ..... Dr. Pinheiro Rocha
Otávio Müller ................ Dr. Renault
Paulo Betti .................... Dr. Professor Pinotti
Emílio Dantas ............... Antonio Britto
Mário Hermeto .............. Tancredo Augusto
Lucas Drummond ......... Aécio Neves
Luciana Braga ............... Inês Maria neves
Priscila Steinman .......... Luisa, repórter
Leonardo Franco ........... Dr. Gilberto Asis
Pedro Brício ................... Patologista
Elcir de Souza ................ Dr. Freire

Direção:
Sergio Rezende

Roteiro:
Gustavo Liptzein


O Garoto-Maroto tá pedindo estrelinhas...


ESTRELINHAS pra "O Paciente - O Caso Tancredo Neves"